Sempre fui um individuo de certo modo brincalhão e desligado das coisas ruins da vida e alguns amigos meus ou de meus filhos, até escreveram coisas ao meu respeito, umas um tanto com sentido jocoso e outras tantas de elogio. Na seqüência, um cordel feito por um amigo de Francisco meu filho, João Araújo de Recife, Físico e Poeta. Ele descreve minha vida de Vendedor quando fiquei desempregado e encarei um bom período de turbulências.
Um Repente ao Ananias
Autor: João Araujo
Vem e escuta o meu repente
Meio mocho, meio fraco
Meio urbano, meio chato
Mas sincero e inspirado
Em cantar sua pessoa
Coração admirado
Seu menino de Maria,
Da pimenta e da cachaça,
Que abre a fome pros trabalho
E que as mangas arregaça
Construindo um telescópio
Só pra ver o céu de graça
Velho mestre, o Ananias:
Nunca vi tanta cultura
Bem cabendo num só homem
Variando com fervura
Pelo espaço que consome
Sem limites de moldura
Doutor Bira cientista,
Vendedor já afamado,
Já criou um violonista
Já mostrou ser muito honrado
Falta só ser citarista
Lá da Grécia, iluminado
Grande artista verdadeiro
Junto a Flor dos Pensamentos
Fez poesia apaixonada
Recitando alumbramento
Com a parceira assim casado
Foi criando os seus rebentos
Só não sei se foi parteiro
Mas de tudo já fez bem
Foi sem dúvida enfermeiro
Já foi Mistério do Além
Fez do simples seu preceito
Conduzindo o amor que tem
Bira lá do Tabuleiro
De Amaragi e de Goiana
Uma espécie de Jê Peto
Vitorioso com sua manha
De viver levando a vida
Com suas mais de mil façanhas
Viajante, aventureiro,
Em Caruaru faz a feira
Pra vender sombrinha, isqueiro,
Desodorante e peixeira
Consegue até vender veleiro
Lá pras bandas de Pesqueira
Severino dos inventos
Garrafada e boemia
Da mandinga pro sustento
Do cabra sem alegria
Vai curando os tormentos
De quem só tem agonia
Já foi no mar e na Lua,
Foi no Buraco da Jia
Conhece Clarke e flutua
Explicando Astronomia
Sabe os segredos da rua
E fala em filosofia
É o nosso Bira Nordestino
Do cantador e violeiro,
Gente que doma o destino
Com força de boiadeiro,
Com pureza de menino
E astúcia de cangaceiro.
Grande amigo vou partindo
Perdoe-me este repente
Que já chega atrasado
Mas vale o que a gente sente
Do meu peito sai verdade
Meu abraço comovente
Nestes versos de Heleno Ramalho, violonista e poeta, amigo de Francisco meu filho, quando este fazia o doutorado lá em Recife. Meu filho contou minha vida inicial de cortador de cana no município de Amaraji e como conheci a mãe dele hoje minha esposa. Chico resultou dessa união.
Quadras Sonhadas
Autor: Heleno Ramalho
Recife, 17 de janeiro de 2001
Naquele corte de cana
Um sonhador lá estava
Enquanto a vida passava...
Feliz aquele que sonha.
Na feitoria dos sonhos
Ia fazendo castelos,
Com o tijolo mais belo
Da olaria dos anos
Navegou em muitas águas
Na correnteza da vida,
E lá se vai noutra lida,
Juntando risos e mágoas?
Uma querência bonita
Um dia botou no peito,
Era seu sonho perfeito,
Em forma de normalista.
O vento passou risonho
Na trilha desse universo;
Para completar o verso,
Aqui se juntaram sonhos
Pra terminar a canção
Desse sonho que sonhava,
Um certo dia abraçava,
Fidelis, seu violão.
O meu amigo de infância Manoel Vitor Tabosa oficial da Reserva da Polícia Militar de Pernambuco, também escreveu alguns versos, os quais eu guardo com muito carinho, pois foi pura verdade essa pontuação alegada pelo meu amigo.
Ao Meu Amigo Birino
Cordel escrito por Manoel Vitor Tabosa meu amigo de infância, no aniversário da professora Dáia minha esposa, enaltecendo o nosso esforço que fazíamos para sairmos duma quebradeira naquele ano de 1997.
Ao meu amigo Birino
Que eu também chamo Zé
A gente chama o que quer
Mas o certo é Severino
Há muito que te conheço
Desde quando era menino
Sempre trabalhou pesado
No campo com agricultura
Ia a cidade todo dia
Aperfeiçoar a cultura
O esforço valeu a pena
Pensando na prole futura
Já tem um filho formado
E a filha se preparando
A esposa já se formou
E hoje está ensinando
Não é mais empregado
Para si está trabalhando
O começo foi muito ruim
Hoje está com os pés no chão
Vende boneco, brinco e foice
Régua papel e cordão
Vende até o que não tem
E quem compra é o Ladrão*
Do jeito que vai a coisa
O progresso já chegou
Até o Bodinho *amado*
Por um carro novo trocou
Se o Estado sair da crise
Vai vender por computador
*Mercadinho do Ladrão
**FIAT 147-1985
Era meu sonho alcançar a Universidade, não foi possível, assim dediquei toda atenção a minha esposa e aos filhos para que chegassem lá. Tanto minha esposa, Licenciada em Letras, como os dois filhos alcançaram e ultrapassaram alguns portais.
Aqui um depoimento através de um poema de grande sentido para mim. Foi escrito por uma pessoa que me ensinou a construir telescópios, dos quais ele fala no poema. Esse moço é professor de física na Rede Estadual de Educação do Estado de Alagoas. É presidente do Ceaal e está concluindo o mestrado em Meteorologia, na Universidade Federal de Alagoas.
Um menino chamado Birino
Adriano Aubert
Conheço um garoto que vive
fazendo telescópios
para ver as estrelas.
Não se cansa de pensar, de lixar
construindo vai sonhando,
sonhando em tê-las
É miúdo, mas não franzino.
Forte feito Órion,
sábio como Quíron,
que danado esse menino!
Dá risadas quando vê meteoros
Nunca está triste
e jamais desiste.
Doura a vida e
afina a água como cloro
Os anéis de Saturno são brinquedos do menino.
espia nos seus instrumentos,
com os olhos sedentos por luz.
Luz que traz beleza e emociona
os olhos e a alma de Birino.
Para Seu Fidélis de um discípulo desajeitado, mas esforçado.
Sou aprendiz em Astronomia Amadora, faço parte do CEAAL (Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas) (www.ceaal.org.br). Recentemente, tenho me dedicado a construção de Espelhos para Telescópios do tipo Newtoniano e também na montagem dos mesmos.
Sou casado com a professora Maria José Barros, carinhosamente chamada de Dáia.
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