quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um Cordel para as Mães



Birino de Amaraji

Dia das mães 05 / 2010

Evocar nomes dos mortos

Pode até causar tristeza

Mas esquecer Dona Rosa

Senhora de grande beleza

E com a filha dela presente

Faremos uma bela prosa


Toda mãe por si renova

Nessa grande efervescência

Pensando em homenageá-las

Vamos começar por Odair!

Abracemos com louvores

As outras mães que estão aqui


O mundo gira daqui pra ali

Conforme manda o relógio

E a influência do tempo

Para começar esta história

Voltemos a Pernambuco

Completando nosso intento


Pois foi cheirando uma flor

Que começou parte disso

ZÉ Pedro tomou Mãezefinha

Era assim que o interessava

Chico não se fez de rogado

Ficou logo com Mãeminha


João por si não se continha

Não foi tão fácil pra ele

É que havia certa rejeição

Para efetivar a conquista

Precisou Compadre Vigário

Auxiliar na aquisição


Celina prestou atenção

E encantou-se de fato

Deixando doze herdeiros

Alguns até já partiram

Os demais estão por aqui

Cuidando dos seus terreiros


O chão desses guerreiros

Continuou em Alagoas

Um varão fincou os pés

Aportando em Coruripe

Adquirindo seu império

Nas terras dos Caetés


No balanço do convés

Ou na estrada em construção

Espalhou-se no Nordeste

O ardor dessa aventura

Hoje é fácil confirmar

E ver tudo o que acontece


Isso há muito que sucede

Desde o início da criação

Vem do tempo de José

O maior dos carpinteiros

Casou cedo com Maria

Que era irmã de Salomé


Todo homem sabe o que é

Uma cama bem cheirosa

Das Marias e das Zefinhas

Onde se esquece do mundo

E logo na manhã seguinte

Vai procurar uma madrinha


Birino entrou nessa rinha

Indo atrás da normalista

Reuniu-se aos doze herdeiros

Integrou essa jornada

Não botou o pé atrás

Ostentando a caminhada


A cacimba

Zé da Luz


Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.


Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.


Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...


As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça...
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça...


Quando eu vejo éssa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...


... Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!

Brasi Caboco

Zé da Luz


O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!


É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro...
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!


Brasi caboco num come
assentado nos banquete,
misturado cum os home
de casaca e anelão...
Brasi caboco só come
o bode seco, o feijão,
e as veiz uma panelada,
um pirão de carne verde,
nos dias da inleição
quando vai servi de iscada
prus home de posição.


Brasi caboco num sabe
falá ingrês nem francês,
munto meno o português
qui os outros fala imprestado...
Brasi caboco num inscreve;
munto má assina o nome
pra votar pru mode os home
Sê gunverno e diputado


Mas porém. Brasi caboco,
é um Brasi brasileiro,
sem mistura de instrangero
Um Brasi nacioná!


É o Brasi sertanejo
dos coco, das imbolada,
dos samba, dos vialejo,
zabumba e caracaxá!


É o Brasi das vaquejada,
do aboio dos vaquero,
do arranco das boiada
nos fechado ou tabulero!


É o Brasi das caboca
qui tem os óio feiticero,
qui tem a boca incarnada,
como fruta de cardero
quando ela nasce alejada!


É o Brasi das promessa
nas noite de São João!
dos carro de boi cantano
pela boca dos cocão.


É o Brasi das caboca
qui cum sabença gunverna,
vinte e cinco pá-de-birro
cum a munfada entre as perna!


Brasi das briga de galo!
do jogo de “sôco-tôco”!
É o Brasi dos caboco
amansadô de cavalo!
É o Brasi dos cantadô,
desses caboco afamado,
qui nos verso improvisado,
sirrindo, cantáro o amô;
cantando choraro as mágua:
Brasi de Pelino Guedes,
de Inácio da Catingueira,
de Umbelino do Texera
e Romano de Mãe-d’água!
É o Brasi das caboca,
qui de noite se dibruça,
machucando o peito virge
no batente das jinela...
Vendo, os caboco pachola
qui geme, chora e soluça
nas cordas de uma viola,
ruendo paxão pru ela!


É esse o Brasi caboco.
Um Brasi bem brasilero,
sem mistura de instrangêro
Um Brasía nacioná!


Brasi, qui foi, eu tô certo
argum dia discuberto,
pru Pêdo Arves Cabrá.


A Noite é como uma mulher desconhecida



Pablo Antonio Cuadra


Preguntó la muchacha al forastero:
- ¿Por qué no pasas? En mi hogar
está encendido el fuego.


Contestó el peregrino: - Soy poeta,
solo deseo conocer la noche.


Ella, entonces, echó cenizas sobre el fuego
Y aproximó en la sombra su voz al forastero:
-¡Tócame! –dijo -. ¡Conocerás la noche!


A NOITE É UMA MULHER DESCONHECIDA


Indaga uma moça
ao homem que passa
e ouve seu falar
lento e surpreso:
- Porque não entras?
Em minha casa.
A porta está aberta
e tem o fogo aceso.


Desdenhando a oferta,
responde o peregrino,
em tom de pejo:
- Sou poeta!
E conhecer a noite
é só o meu desejo.


Ela, com cinzas apaga o fogo.
E franzindo a fronte,
Aproxima na sombra
seu corpo todo,
dizendo ao forasteiro:
- Toca-me!


Conhecerás a noite!

Imperativos da Vida


Adicionar imagem

Severino Fidelis de Moura

Não descartemos ilusões

Clarões e novos valores

Deixemos dúvidas e horrores

Enchente, chuva e tufões



Milênios já se passaram

Macabeus contra o Império

Astrônomos pensando sério

Grandes exemplos deixaram



Cada qual na latitude

Que obedeça ao fuso horário

E tire o melhor proveito



Conforme nossa atitude

De consulta ao calendário

Olhemos o céu com respeito


Janela Indiscreta


Naquela janela indiscreta

Por causa do esquecimento.

Depois de um banho arrojado

Na lembrança do talento

Deixou de vestir a calcinha

Para cobrir o tormento


Correu para o parapeito

Pra vê o palhaço do Circo

Que andava de carruagem

Em propaganda pra isso

Porém errou a janela

Foi pra varanda de risco


Parou palhaço e povão

Pra ver a coisa arrojada

Ficaram olhando pra cima

Para aquela bela papada

Uns diziam: que bicho é?

Outros diziam: é uma vaca


Pessoas que ali passavam

Ficaram tão extasiadas!

Por tão breve aparição

Foram longas as suspiradas!

A jovem é talentosa!

Merece umas palmadas!


Logo a moça se deu conta

Com aquela trapalhada

Segurou a saia nas pernas

Esqueceu as caçoadas

Foi cuidar de se vestir

E cobrir a peça raspada