segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Valor que o Peido Tem


De Otacílio Batista



O “peido” é bom toda hora
Sem peido não há quem passe
A criança quando nasce
Tanto “peida” como chora
Um “peido” ao romper da aurora
Eu não troco por ninguém
Há noites que eu solto cem
“Peidos” grandes e pequenos
Já conheço mais ou menos
O valor que o “peido” tem

Um velho já moribundo
Nas agonias da morte
Soltou um “peido” tão forte
Que se ouviu no outro mundo
O “peido” gritou no fundo
Que só apito de trem
O velho sentiu-se bem
Levantou-se no outro dia
Dizendo a quem não sabia
O valor que o “peido” tem

Pela porta do bufante
Para não morrer de volvo
Diariamente eu devolvo
“Peido” grande a todo instante
O sujeito ignorante
Não me compreende bem
Fecha a porta do “sedem”
Deixa o “peido” apodrecer
Esse morre sem saber
O valor que o “peido” tem

Um “peido” silencioso
Por baixo de um cobertor
É tão grande o seu valor
Que descrevê-lo é custoso
Cheira mais que o mais cheiroso
Vale de Jerusalém
As roseiras de Siquem
As savanas do Saara
Nada disso se compara
O valor que o “peido” tem

Ofende muito a pressão
“Peido” grande encarcerado
Deixa o corpo aliviado
Depois que sai da prisão
As veias do coração
Controlam-se muito bem
Sente o coração também
Uma alegria sem par
Ninguém sabe calcular
O valor que o “peido” tem

Uma dor que faz mudar
A cadencia dos ouvidos
São os “peidos” recolhidos
Que você não quis soltar
Não vá se… prejudicar
Em respeito a seu ninguém
O velho Matusalém
Quase mil anos viveu
Porque toda vida deu
O valor que o “peido” tem

Um negro foi se casar
Ou se casava ou morria
“Peidou tanto neste dia”
Quase derruba o altar
A noiva foi reclamar
Findou peidando também
O padre disse meu bem
Ninguém dar mais do que eu
O valor que o “peido” tem



“Peido” azedo de água soda
Fede a casca de limão
E de jabá com feijão
Passa folgado na “roda”
“Peido” nenhum se encomoda
Com censuras de ninguém
Presta um favor quando vem
Aliviar quem padece
É quando a gente conhece
O valor que o “peido” tem

“Peido” fedendo a chulé
Num samba de madrugada
Sai com tanta misturada
Que ninguém sabe o que é
Mais um “peido” de Pelé
Jogador que vive bem
Passa veloz no vintém
Não há goleiro que pegue
Nenhum bom juiz que negue
O valor que o “peido” tem

Que prazer eu não teria
Se um “peido” se apresentasse
Bem fedorento e “peidasse”
Deixando a fotografia
Mas o “peido” não confia
Nos olhos de seu ninguém
São mistérios do além
Não posso compreender
Mas vale a pena saber
O valor que o “peido” tem

Um “peido” em pleno verão
Cheirando a ** de veado
“Tava” sendo arrematado
Numa festa de leilão
Quando chegou num milhão
Não quis mais gritar ninguém
Naquilo o prefeito vem
Dizendo a honra me cabe
Minha prefeitura sabe
O valor que o “peido” tem

Dizia o velho Abranhão
Para seu neto Isau
O peido agradece ao **
Depois que sai da prisão,
Peidava um tal de Sansão
Pelado, e cego de guia
Temendo a onda bravia
Moisés peidou no oceano
E o papa no Vaticano
Só peida uma vez por dia

Alguém disse que Jacó
Quando casou com Raquel
Passou a lua de mel
Peidando de fazer dó
Esse parente de ló
Era genro de Labão,
Davi, pai de Salomão
Poeta, Rei e pastor
Peidava fazendo amor
Na cama fria do chão.

O homem velho esmorece
Assim que a noite aparece
Se deita e faz uma prece
Lá num canto da parede,
Meia noite se levanta
Com secura na garganta
Pega um caneco de “frande”
Vai ao pote mata a sede
Solta quatro peido grande
Volta cegado prá red

Peido fino é safadeza
Peido alto é cretinice
Peido suave é meiguice
Peido baixo o é sutileza
Silencioso é firmeza
Peido brando indica paz
O grosso é dos anormais
Sempre indica frouxidão
Mas chegando a perfeição
O homem não peida mais.

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