domingo, 7 de novembro de 2010

Soneto do Epitáfio







Manoel Maria de Barbosa I’Hedois Du Bocage foi um poeta português e possivelmente o maior representante do arcadismo lusitano.



Soneto do Epitáfio, por Bocage



Lá quando em mim perder a humanidade

Mais um daqueles, que não fazem falta,

Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,

Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:


Não quero funeral comunidade,

Que engrole "sub-venites" em voz alta;

Pingados gatarrões, gente de malta,

Eu também vos dispenso a caridade:


Mas quando ferrugenta enxada idosa

Sepulcro me cavar em ermo outeiro,

Lavre-me este epitáfio mão piedosa:


"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;

Passou vida folgada, e milagrosa;

Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".


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