Uma síntese de vivência a partir dos anos 1940, embora eu tenha nascido em 1945. Em 1951 eu já lia folheto na casa de Farinha. Assim mesmo o menino todo ele já ia pegando o caminho para avaliação da vida que vivíamos.
A garotada daquele tempo aos 7 anos além de ir para a escola também ganhava o contato com a enxada a foice o machado e o balaio de pescar, o uso da vara de anzol para pescar piaba, sem contar a tirada de ração para os animais, no meu caso eu morava na beira de um rio famoso o Rio Amaraji, afluente do rio Sirinhaém. Para as meninas não era diferente, elas eram instruídas a já em tenra idade cuidar do seu asseio, lavar suas calcinhas, escorregar para a cozinha e ajudar a mãe nos afazeres domésticos!
A saúde naquele tempo era um problema, não pela falta de remédios e sim pela escassez de médico para as comunidades, especialmente as do campo. Os remédios era mais os do mato, digo a base de chás e alguns encontrados para matar Lombrigas e outros vermes do intestino (Ankilostomina Fontoura). Havia o Cibazol, Cibalena, Pó Secante. Cibazol era um antibiótico, Cibalena para dor de cabeça e febre e o Pó Secante era outro antibiótico que se aplicava nas feridas, onde criava uma crosta de proteção, e que as vezes as galinhas beliscava as feridas para saborear o cascão delas, deixando um rastro de sangue nas pernas da meninada.
Em 1977 foi criado o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), autarquia federal, foi criado em 1977, pela Lei nº 6.439, que instituiu o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas), definindo um novo desenho institucional, antes disso era muito pior, na indigência nos postos de saúde a fila era pior do que o SUS atual, e no INAMPS, você teria que ter uma carteira de tralho assinada ou escorregaria para a indigência dos anos anteriores. Nessa conjetura do trato com a assistência médica é aonde vamos chegar com os cuidados que algumas prefeitura tinham com seu contribuintes ou mesmo a cumplicidade política de médicos das localidades para fins políticos e muitas até por oferta de caridade.
Como meu lugar na sequência dos anos 50, século XX, era Amaraji, farei alguns comentários de certo modo jocoso sobre os atentidimentos médicos de alguns segmentos nas circunstâncias de favores ou caridade do pessoal da saúde.
Nós do campo dificilmente ia ao médico, os remédios caseiros e o famaceutico na cidade resolvia boa parte dos cuidados médicos de todo mundo. No mato todo mundo tem disturbios intestinais, remédio para lombriga, citado acima, vinha o Cibazol, a Cibalena e o Pó Secante para os cortes, chamados talho, levou um corte , era chamado de talho, ai pedia a Seu Bita, o farmaceutico: “quero pó pa tapar taio” ele sabia o que era.
Tosse era chá de Imburana de cheiro ou com mais qualidade o lambedor da casca da Imburana. Para as mulheres já senhoras de maridos ou algo assim, havia meio mundo de chás e até para botar menino no mato, abortar, tomavam chá de “Rabo de Raposa” alguns chamam de “Samba Caitar”uma planta eu diria um arbusto, de sabor muito amarga, era tiro certo. As Resas estavam sempre presentes quando o camarada levava um refrega e o local inchava, ai você ia ao resador ou resadeira.
Você era orientado a entrar na resa para terum efeito mais adequado: o resador... –o que é que eu coso: você respondia...carne triada nervo torto e osso desconjuntado, onde o resador dizia: com os poderes de Deus e de São Frutuoso, essa eu coso, ele resava uma ladainha de padre nosso enrolado e se repedia por 3 vezes. Ai o resador dizia: chegue em casa pode um paninho quente em cima viu! Era aquilo que curava! A mordida de cobra era com Seu Zé de Sena ou Seu Cirilo, a cobra mordeu você ia para esses camaradas ele lhe resavam calados e depois lhe dava 3 limões descascados para você mastigar e engulir. Alguém perguntou: porquê os limões, o resador dissera é o que cura, a fé pode ajudar! Naturalmente boa parte procura Seu Bita e este lhe aplicava o soro correspondente para cada qualidade de cobra. Eu fui picado por uma Jararaca, corri pra Seu Bita, eu tinha 16 anos.
O problema maior era que os maridos não deixavam as suas “caras metades” irem ao médico sozinhas, ficava dificil para elas contornarem a situação. Ele ia também levar a pobre coitada na presença do médico e tinha alguns deles que não conheciam a linguagem do pessoal do campo e acontecia até certas ingroserias.
Vou fazer um atalho antes desses atendimentos médicos para anunciar alguns nomes dos profissionais de saúde, famácia, comerciantes etc. Boa parte dos nomes será um nome substituto para não bulir com os familiares desses camaradas que já foram para o cabaré de Maria Madalena, o ceú.
O médico dessa história que també era prefeito, esse fazia caridade trabalhando aos domingos na feira, era ele Dr.Borba. Seu Bita era o famacéutico, esse tinha dois irmãos, Nika e Zito ambos da saude e que ajudavam o farmaceutico. Dr. Borba prestava cuidados médicos aos domingos no bilhar de Seu Aroldo, este dispensava um birô (mesa) e ai aparecia alguns moradores distante e estes que não deixavam a mulher opinar em nada. Vamos a uma consulta, de uma senhora, com coceira por baixo e a filha de 12 anos dissera ao pai onde era a conseira: diga papai que é no ânus. Quando o médico estava para perguntar, ele mandou parar e veio cá fora e perguntou a menina: como é mesmo o apelidio do cú da tua mâe? Disse ao doutor onde era a coseira. Ai o médico perguntou a senhora tem apetite? O marido, tem mas não mostra! Não amigo ela consegue comer bem ou é fastiosa? O doutor perguntou a senhora urina com abundãncia, ai o velho adiantou: não dotô, continua mijando com a bucetãncia! Ai a consulta teminou com a receita, uma caseira e a outra para o homem da farmácia fornecer. Pó secante para misturar com banha de porco e para passar na preciosa atolando o dedo lá pra dento e nas regiôes bundae para acabar com a coceira. Na farmácia o velho ia comprar Cibazol e Cibalena para levar para casa junto com o Pó Secante. Banha de corpo era pra tudo todo mundo usava, inclusive na cosinha para fazer comidas etc.
No entanto, o doutor acrescentou a seu Porfírio, para que ele passasse uns 15 dias sem procurar sua senhora (Dona Severina) para serviço de cama, ai o velho mordeu a corda... oxe seu doutô e eu vou passar quinze dias sem butar gogó de meiguião! A vizinha qui ma judava foi-se imbora! Dona Severina arregaçou... tá vendo Poifiro eu sempre disconfiei de cumade Zefa visse, aquele Toinho é mesmo teu fio visse!
P. S.
Mergulhão é um pássaro aquático de pescoço comprido que pesca na beira dos rios peixes miudos, mussu etc.
CIBALENA A - é uma combinação de ácido acetilsalicílico, paracetamol e cafeína. O paracetamol é um analgésico e antipirético (contra dor e febre), o ácido acetilsalicílico é analgésico e antiinflamatório. A cafeína potencializa o efeito analgésico.
Cibazol - O Cibazol era um antibiótico das décadas de 1940/1950, encontrado em comprimidos, ampolas, pomadas, etc., fabricado pelo então Laboratório CIBA (daí o nome Cibazol).
Pó Secante - É um produto utilizado para ajudar na cicatrização de feridas. Fazendo com que a ferida aberta fique mais sequinha, de forma que não corra o risco de infecções.
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