Marcos di Aurélio
a zona tem lá seu nome
a rica seu “randevú”
a pobre passando fome
mas o baixo meretrício
guarda o seu sacrifício
dirigido para o homem.
Tem cada nome esquisito
como se fosse a Babel
Timbaúba, o Rosa Branca
Itabaiana o Carretel
e nem tão longe dali
Ferreiros o Bugari
narrada neste cordel.
Uma coisa é bem comum
em qualquer geografia
o prato que lá se come
seja noite ou seja dia
é feito de carne viva
uma coisa que cativa
perpetuando a orgia.
O viver é diferente
tudo muito animado
o lençol é colorido
o que pode é espelhado
o que não falta é mulher
cachaça e arrasta-pé
e de quebra tem viado.
Mas é tudo organizado
com sua bela razão
a dona do cabaré
e de toda a pensão
exige todo o direito
e cobra pelo respeito
se lá houver confusão.
Lá não tem muita distância
lá não tem doutor de anel
come preto, come branco
de peão a coronel
e mesmo que não se diga
boa noite a rapariga
mesmo assim tira o chapéu.
Resolveu-se um belo dia
se criar um bom folguedo
com 12 metros de pau
coisa pra se botar medo
as quengas de Timbaúba
criaram outra suruba
dessa vez um pau-de-sebo.
Durava uma semana
para o pau ser preparado
que depois de escolhido
era todo descascado
que bem liso se esperava
quem subisse escorregava
de tão bem lubrificado.
Em cima na ponta fina
era o prêmio em dinheiro
ensacado de vermelho
balançava no terreiro
e o sujeito que subisse
e que todo mundo visse
tava herói do galinheiro.
A festa que começava
por volta das 9 e meia
reunia uma legião
de muito cabra-de-peia
quase tudo embriagado
era um dia de apurado
era muita gente feia.
Eu tinha meus 12 anos
e ia para o lugar
assistia o pau-de-sebo
com vontade de trepar
como era o meretrício
não queria o sacrifício
de meu pai ter que apanhar.
De longe tudo assistia
o sobe desce dos cabra
o olhar de cada um
no saco que balançava
era lá muito dinheiro
que pr’um pobre cachaceiro
era tudo que sonhava.
E nesse dia o Vigário
quase morria em ciúme
a festa que dava a zona
lhe deixava de azedume
pois se pudesse queria
sua batina subia
sebo seria perfume.
A festa ia aumentando
nessa altura meio-dia
o pau ficando mais baixo
com o povo que bebia
o largo cheio de bêbo
cada um tirando o sebo
que o sol já derretia.
Lá pelas 4 da tarde
já com mais inteligência
o magote de machões
entendendo a exigência
a união se formava
e com ela se alcançava
o saco da penitência.
O foguetório dizia
no zumbir de cada vara
que o pau-de-sebo findou
que o vencedor apanhara
mesmo depois de brigas
o valor das raparigas
que como imposto pagara.
Com o fim da brincadeira
saía a festa da rua
entrava no cabaré
na noite saía a lua
tinha cachaça de pipa
bem paga no pé-do-cipa
e a festa continua.
Não sabia lá ninguém
da festa sua razão
só se queria trepar
em busca do dinheirão
mas depois de se passado
do pau-de-sebo alcançado
tudo volta pro balcão.
De onde o valor saiu
para o prêmio referido
o cabaré reuniu
se fazendo concorrido
e quem o prêmio pagou
recebeu com mais valor
sem ninguém sair ferido.
Em tudo há intenção
e essa é uma estética
da estória dita aqui
sob toda sua métrica
pode até pensar que não
rapariga de razão
também tem a sua ética.
Findo minha homenagem
pontuando o enredo
lhe convidando pro ano
se de mulher não tem medo
se você for mesmo mau
se gostar também de pau
pr´um Dia do Pau-de-Sebo.