domingo, 31 de outubro de 2010

O Pau de Sebo no Cabaré de Timbauba


Marcos di Aurélio


Em cada lugar do mundo
a zona tem lá seu nome
a rica seu “randevú”
a pobre passando fome
mas o baixo meretrício
guarda o seu sacrifício
dirigido para o homem.



Tem cada nome esquisito
como se fosse a Babel
Timbaúba, o Rosa Branca
Itabaiana o Carretel
e nem tão longe dali
Ferreiros o Bugari
narrada neste cordel.



Uma coisa é bem comum
em qualquer geografia
o prato que lá se come
seja noite ou seja dia
é feito de carne viva
uma coisa que cativa
perpetuando a orgia.



O viver é diferente
tudo muito animado
o lençol é colorido
o que pode é espelhado
o que não falta é mulher
cachaça e arrasta-pé
e de quebra tem viado.



Mas é tudo organizado
com sua bela razão
a dona do cabaré
e de toda a pensão
exige todo o direito
e cobra pelo respeito
se lá houver confusão.



Lá não tem muita distância
lá não tem doutor de anel
come preto, come branco
de peão a coronel
e mesmo que não se diga
boa noite a rapariga
mesmo assim tira o chapéu.



Resolveu-se um belo dia
se criar um bom folguedo
com 12 metros de pau
coisa pra se botar medo
as quengas de Timbaúba
criaram outra suruba
dessa vez um pau-de-sebo.



Durava uma semana
para o pau ser preparado
que depois de escolhido
era todo descascado
que bem liso se esperava
quem subisse escorregava
de tão bem lubrificado.



Em cima na ponta fina
era o prêmio em dinheiro
ensacado de vermelho
balançava no terreiro
e o sujeito que subisse
e que todo mundo visse
tava herói do galinheiro.



A festa que começava
por volta das 9 e meia
reunia uma legião
de muito cabra-de-peia
quase tudo embriagado
era um dia de apurado
era muita gente feia.



Eu tinha meus 12 anos
e ia para o lugar
assistia o pau-de-sebo
com vontade de trepar
como era o meretrício
não queria o sacrifício
de meu pai ter que apanhar.



De longe tudo assistia
o sobe desce dos cabra
o olhar de cada um
no saco que balançava
era lá muito dinheiro
que pr’um pobre cachaceiro
era tudo que sonhava.



E nesse dia o Vigário
quase morria em ciúme
a festa que dava a zona
lhe deixava de azedume
pois se pudesse queria
sua batina subia
sebo seria perfume.



A festa ia aumentando
nessa altura meio-dia
o pau ficando mais baixo
com o povo que bebia
o largo cheio de bêbo
cada um tirando o sebo
que o sol já derretia.



Lá pelas 4 da tarde
já com mais inteligência
o magote de machões
entendendo a exigência
a união se formava
e com ela se alcançava
o saco da penitência.



O foguetório dizia
no zumbir de cada vara
que o pau-de-sebo findou
que o vencedor apanhara
mesmo depois de brigas
o valor das raparigas
que como imposto pagara.



Com o fim da brincadeira
saía a festa da rua
entrava no cabaré
na noite saía a lua
tinha cachaça de pipa
bem paga no pé-do-cipa
e a festa continua.



Não sabia lá ninguém
da festa sua razão
só se queria trepar
em busca do dinheirão
mas depois de se passado
do pau-de-sebo alcançado
tudo volta pro balcão.



De onde o valor saiu
para o prêmio referido
o cabaré reuniu
se fazendo concorrido
e quem o prêmio pagou
recebeu com mais valor
sem ninguém sair ferido.



Em tudo há intenção
e essa é uma estética
da estória dita aqui
sob toda sua métrica
pode até pensar que não
rapariga de razão
também tem a sua ética.



Findo minha homenagem
pontuando o enredo
lhe convidando pro ano
se de mulher não tem medo
se você for mesmo mau
se gostar também de pau
pr´um Dia do Pau-de-Sebo.

Epitáfio


Epitáfio


Esta epígrafe está no túmulo do meu irmão, Amaro Fidelis de Moura, em Amaraji-Pe, ele também admirador de poesia. Aproveitei e fiz estas estrofes completando, quem sabe, os interesses do finado.

“Não pode dar grande obra”

Um pau que tem grande oco

Para uma fornalha tão grande

“Três carros de lenha é pouco”

O mundo anda desmantelado

O governo tome atitude

Ninguém liga pra juventude

Criança ao léu pra todo lado

È na rua é no mercado,

A miséria está de sobra.

E quem está moribundo?

Precisa ser bem cuidado

Tanta gente assim, jogado

“Não pode dar grande obra”



Chega mesmo a fazer medo

Passar por perto do fosso

O mato dando ao pescoço

Da juriti vem o arremedo

Assim vai o Marceneiro

Contando os cobres no bolso

Pela Mesa que vai fazer

Com a árvore para o abate

Que surpresa para o Vate

“Um pau que tem grande oco”



Uma moita de mato forte

Secado na força do sol,

Uma plantação de girassol

Alguém carrega o archote

Numa touceira de bambu

Não há água que abrande

Dez carroças de quenga de coco

Quando, porém pegar fogo

Tudo isso, ainda é pouco

“Para uma fornalha tão grande”



Precisa um trem de ferro

Carregado e estaqueado

Desses de carregar gado

Quinhentos bodes no berro

Para assar nesse forno

Até parece coisa de louco

Tanto murici e gramondé

Entulhado lá no terreiro

Por conta do cozinheiro

“Três carros de lenha é pouco”



A Influência do Peido



A Influência do Peido


Uma barriga atropelada

Por feijoada mal feita

Sem médico para a receita

Será uma noite atribulada


O resultado, meu chapa

É sem dúvida um aperreio

Não adianta o correio

Pra tanta barriga inchada


Vem logo o empachamento

E grande formação de gás

Que nem sempre será capaz

De reter pelo escapamento


Vai cagar feito um jumento

Peidar como carneiro mocho

A comida fez um destroço

Não esquecendo o lamento

Ainda sobra arroto choco


Com os olhos a fumaçar

A vizinhança a reclamar

No meio de tanto alvoroço


O dono já envergonhado

Passa a vista pelo terreiro,

Da casa do fazendeiro

Não encontra a moita de mato!...

sábado, 30 de outubro de 2010

De volta a Não Pensei "O engenho"


De volta a Não Pensei

Severino Fidelis de Moura

Birino



Fazendo nova visita, ao lugar que fui criado,

Imagino o nosso pai retornando da sua última viagem.

Recordaria com certeza, os temores e as lutas do passado!

E visse, a vista descortinando tudo aquilo ali!

O Rio, e a correnteza, Pinguela de concreto armado!

Como ficaria impressionado, pois ele só tinha o Bulandi?

Hoje o filho também recorda, passagem de rio cheio.

Cortejando a filha alheia, do outro lado da correnteza.

Conquistou-a para si, botou sua mãe nos asseios!

Deixando-a na cidade, em nova casa arreada, bem guardada.

Ela nunca gostou. Aceitou, foi um impacto medonho!

Voltou ao sítio para passear, também, fez última caminhada!

Luz elétrica, milho, e feijão de corda, roças a descoberto!

Os pais da cara metade, se voltassem estranhariam,

Os produtos da evolução, “dos sem terra e dos sem teto”.

Mudou muito, Usina de Cana, fumaça e poluição, entulho!

. Lá era Terra para gaviões, macaco guariba e caipora,

Fazendo trança em cavalos, e cachorro fazendo barulho

Brincando de fazer prosa

Impossível eu voltar mais

Razões eu tenho de sobra

Indomável saudade de tudo

Não posso marcar presença

Oh! Vinte e cinco de outubro!

E

Digo com o meu artifício

Aquilo que Birino ousa

Inda falta muita coisa,

A descrever lá do Sítio.