Nosso amigo Adriano caprichou na gravura e ficou excelente, David também fez algumas correções ortográficas e de pontuação. Pontuamos, mas é costume esse tipo de literatura discorrer sem muitos requisitos gramaticais.
Abaixo o resumo que mandei ao Enast:
Este trabalho apresenta uma produção escrita, em forma de Literatura de Cordel que conta fragmentos da história de vida de um Aprendiz de Astronomia Amadora e ATM do Estado de Alagoas. O texto, cujo título é O Menino das Estrelas, contém quatro subtítulos a saber: O menino na roça; A Luta pelo saber; Em busca da Normalista e Contato com as Estrelas. Seu objetivo é socializar a história de vida de um nordestino, contando suas peripécias e aventuras e como conseguiu chegar às estrelas.
O
menino na Roça
Nasci em quarenta e cinco,
Nas inclemências da guerra,
Na grande sombra
dum outeiro
Por detrás de
muitas serras,
Observando
um céu natural
Onde a consciência
se eleva.
Meu pai vivia
da roça,
Produtos do seu labor;
Era o que
interessava,
Banana ou mamão na
flor,
Animais na manjedoura,
E as juntas sem sentir dor.
Era artífice de qualidade
Na arte de marcenaria,
Apreciava
boa madeira
Na sua casa de
farinha,
Pois dela tirava o lenho
Para atender a freguesia.
Eu assim fui me criando,
Assistindo e
aprendendo
Trabalhos de
carpintaria,
Assim eu ia
crescendo
Para um futuro acalanto
Não ficar a
mercê do vento.
Vivíamos do que fazíamos,
É a história
que conheci,
Trabalhos de carpintaria,
Esse eu bem que mereci,
Papai lavrava
a terra,
E eu servindo de aprendiz.
Luz elétrica,
nem pensar,
Nenhuma
comunicação,
Somente luz
do candeeiro
Aplacava
aquela escuridão.
Do lado de fora,
no entanto,
O céu,
verdadeira ostentação.
Não era somente
isso não,
Havia os festejos juninos,
Curtia o
fabrico de pólvora
Para depois nos estampidos
Celebrar o Santo do dia
Sem precisar ser
socorrido.
Nesse pé de arrumação,
Nas noites de trovoadas,
Falava-se de
Astronomia
Sem faltar às tabuadas,
Para computar a altura
De toda aquela
saraivada.
Criei-me nesse
ambiente
Entre estrelas
cintilantes,
Eu menino me deslumbrava
Com aquele céu brilhante,
Minha mãe sempre falava
De um Deus
exuberante.
Valia à pena a gente ouvir
O galo na madrugada
Separando noite e dia,
Em silêncio, região isolada.
Só na mente, a lembrança,
De uma noite enluarada.
Não conheci
meus avós
Nem importava a ocasião;
Tanto meu pai como a mãe
Deram-me com gratidão
Nomes de lendas
famosas,
Do Golfinho
ao Rei Leão.
Minha mãe
olhava o céu
No carreiro de São
Tiago.
Para ela, aquele Universo
Era como escutar um fado;
Apontava as bandas do norte
E me mostrava o arado.
Aquela mente analfabeta,
E o meu pai um tanto herege,
Porém ambos conversavam
E diziam:
aqui tudo acontece.
Planetas se movimentam,
E a gente vê quando anoitece!
Eu perguntava incisivo:
Quem lhes falou
tanta coisa?
Ora, foi o mestre
Pacheco,
Ensinava a escrever na lousa,
Já no caso do teu velho pai,
Foi Seu Benedito de Sousa.
Enfeitiçado
me deixava
Tanta luz
num candeeiro,
Papai dizia
com ênfase:
Essa veio do
estrangeiro,
É pra
iluminar a estrada
E fazer o
serviço ligeiro;
Lá pras
banda da Europa,
Eles chamam
Sealed Beam.
Aqui, no
meio dos matutos,
É chamada de
Silibrina
Por causa dessa
luz forte
Pra deixar
tudo no clima.
Menino ainda
eu era,
Nem olhava a
Severina.
Fitava muito
as estrelas
Sem o Raio
da Silibrina
Pois era uma
supernova
A luz
daquela bobina.
A Silibrina,
uma lanterna
De Grande
poder de luz
Levada nas
locomotivas
Não era pra
fazer cuscuz
Usava-se na
manutenção
Dos trilhos
que a conduz.
Coisas que mexiam
comigo,
Silibrina
era uma delas,
Fabricada
por estrangeiros
Não era
pronúncia bela,
A outra era
a Locomotiva,
Eu ainda
andei nelas.
Meu pai
sempre dizia
O que tem
aqui tem no céu:
Cachorros,
pato e Peru,
Cobras,
Lagartos e Pantéu.
Lá pras
banda do norte,
Tem até
noiva com véu.
Vivi no
Sítio Guariba
Dos sete aos
vinte anos
Estudava e
trabalhava,
A
agricultura era o ramo,
Cortava cana
e amarrava
E sabia quem
era o dono.
Também fazia
as birras,
Onde todo
menino é bom,
Bolinava com
as vacas,
Porém sem
perder o tom,
Aprontava
com as cabras,
E o berimbau
era o som.
Vitor, amigo
de infância,
Nascido em
Caruaru,
Ajudava-me
nas trelas
Às voltas
com o Cururu,
Onde
fazíamos capa sapo
Com calangos
e teju.
Pela noite
com o meu pai
Olhava as
bandas do leste,
Era ali onde
aparecia
Muito objeto
celeste,
Inclusive o Sputnik
Do oeste
para o sudeste.
O céu da Guariba
era bom
Para se avistar gaviões,
Também as Malhas
do Sul,
Aquelas galáxias
Irmãs,
Assim minha
mãe chamava
As Nuvens de Magalhães.
Cometas, no
céu da tarde,
Pela manhã,
ainda bem!
Uma festa
para os olhos!
E
preocupação também;
Na boca
daquele povo,
Calamidade
por ai vem.
Circulo na
Lua e no Sol?
Era aquele estardalhaço,
Cada um que
mourejasse
Uma boa
queda de braço
E acertasse
a interpretação
Sem demonstrar
embaraço.
Bem próximo
do arqueiro,
Por volta de
zero hora,
Minha madre lá apontava
O Rosário de
Nossa Senhora;
Que bela
Coroa Austral!
Sendo vista
sem demora
Parecia uma
ferramenta
Usada pelo
carpinteiro,
O Compasso
de São José?
Conhecido no
mundo inteiro
Pela constelação do Touro,
E Aldebarã
vem primeiro.
Não sendo
muito estudada,
Custava a
entrar no passo
Pois a
constelação do Touro
Se parece
com o compasso;
Ferramenta
dos obreiros,
Assim não
erra os espaços.
A
luta pelo saber
Aprender ler
foi mais fácil
Do que se
estava esperando,
Consegui com
as empregadas
Na Casa
Grande trabalhando.
Elas me
ensinavam de tudo,
Muitas vezes
soletrando
Com cinco
anos de idade,
Fiz carreira
na escola,
De Dona Bia
a comadre
Pra não
perder a viola
Quando ficasse
mais velho,
Ter algo bom
na sacola.
Quando eu já
sabia ler,
Dos Anjos, a
professora,
Encaminhou-me
a cidade
Para outra
educadora,
Era no Grupo
Escolar
Bem perto da
Difusora.
Lá aprendi
muita coisa
Da primeira
a série quarta,
Logo cheguei
até a oitava.
Minha
professora era Marta,
Ficou muito
fácil a lição
De quem
tinha a mente nata.
Corri pra
cidade grande
E lá estudei
pesado,
Fiz o Ensino
Médio,
Achava-me capacitado
Pra
enfrentar a universidade
Porém estava
enganado.
Lá eu fui
muito ajudado
Por um irmão
caprichoso
Bem mais
velho do que eu
E era também
buliçoso,
Deixou
família numerosa
E não se
dizia queixoso.
Tentei a Universidade,
Levei pau no
vestibular,
Disse para
mim mesmo:
Um dia vou
arregaçar,
Fabricar
gente letrada
Pra deixar
no meu lugar.
Em
busca da Normalista
Nos anos
sessenta e oito
Do século que
acabou,
Posso dizer sem rodeios:
Minha vida
renovou.
Quando conheci uma jovem,
Minha sobrinha que apontou.
Uma
querência bonita
Que logo
botei no peito.
Ela era uma
normalista
Para o meu
sonho perfeito;
Aproveitei o
vento risonho,
Assim fiz o
que era direito
Passado já algum tempo
Que começou tal
vida e lida,
Quebramos os
protocolos
E as passadas perdidas.
Ultrapassamos
as fronteiras
Não respeitando divisas.
O sonho da Universidade
Ficou mesmo
para os filhos,
Que vieram
programados
E apertados
nos atilhos.
Saíram dois
para o sucesso
E estão em
cima dos trilhos.
Contato
com as Estrelas
Trabalhando
lá em Recife,
Um jovem
empedernido
Conheceu no
grande centro
O padre
Polman decidido
Lá nos domínios
do CEA
Em ambiente
descontraído.
Trouxe para
Alagoas
Essa fonte
inesgotável
De
conhecimento aplicado.
E sem
recurso palpável
Reuniu um
grupo coeso
Para estudar
o céu afável.
Em um
depósito de escola,
Viu uma
luneta sucateada.
Com
manutenção e verniz,
Manteve-a
bem prateada,
Fez mesmo
que Galileu,
Deixou-a já
patenteada.
Isso foi em
setenta e nove,
Somente dez
anos após
Foi
registrado em Cartório,
E o nome
Ceaal tem voz.
Hoje somos
reconhecidos,
E o céu,
nosso Porta Voz.
Reabrindo o
horizonte,
Nosso
saudoso Genival,
Com garra,
fé e coragem,
Deu grande
impulso ao Ceaal.
Hoje até
Observatório
Leva seu
nome afinal.
Acontece
como as estrelas,
Que deixam a
sua mensagem;
Com nosso
amigo também,
Para o além
fez a viagem,
Deixando
muita saudade,
Brilhará noutra
paragem.
Encontrei um grupo coeso
De intelecto
superior,
Professor, médico e
advogado,
Tem até
mesmo um senador.
Não em forma de pessoa,
Mas, um instrumento de valor.
Faço parte
desse grupo,
Entrei sem
conhecimento,
Aprendi
muito e repasso
Alguns dos
ensinamentos.
Alunos é que
não faltam,
Cada um com
mais talento.
Estando no
meio deles
Renovo meu
conhecimento
Confundem-me
com professor
Reconhecem
meu talento
Nunca me
senti tão bem
Numa equipe
em movimento
Tem nessa
corte estrelada
Pesquisa,
Ensino, Divulgação
Faço estas
duas últimas
Pesquisa,
não sou bom não
Existem outros
membros
Que estão
sempre em ação
Em quatro EINA cheguei
Num dos
ENAST também
Aprendi
bastante coisa
E nem viajei
pro além
Dois mil e
dez em Recife
Pra me
sentir muito bem
Falarei dos
personagens
Do meu grupo
seletivo
Romualdo com
nebulosas
É um médico
muito ativo
Sempre chega
na hora certa
Bom camarada
e amigo
Adriano é
nosso Mestre
Orientador
por excelência
Divide com
todo mundo
Sua ampla
experiência
É um grande
amigo de fé!
E não
esquece a paciência
É
funcionário federal
Também fez
computação
Construiu
seu telescópio
Que comprou
a Sebastião
Ainda admira
as estrelas
Nosso Lucas
é um cidadão
David com
seus Messier
Do céu, grande
conhecedor
Tem o
domínio da palavra
Com intelecto
superior
Fala mais de
um idioma
No Ceaal,
ainda é tradutor
É
funcionário federal,
Também fez
computação,
Construiu
seu telescópio
Que comprou
de Sebastião;
Ainda admira
as estrelas,
Nosso Lucas
é um cidadão.
Temos musas mimosas
De rara
beleza austral
Kizzy Sirius
é uma delas
Do nosso
circulo central
O planetário
é sua área
Astronomia é
seu ideal
Edmilson não
esquece
Seu trato
com o Planetário,
Ele gosta
das Variáveis
E profere
seminário;
Em Física
está afinado
Recebe fundo
do Erário.
Júnior, lá
de Batalha,
Advogado
brilhante,
Conhece o
céu como nunca,
É assíduo e
constante;
Tem
Observatório remoto
Naquele céu
fumegante.
Simone é a
contabilista
Falta um
pouco, mas aparece;
Quando chega
é uma alegria,
Dela ninguém
esquece.
Cuida da
pouca finança,
E o clube
bem que agradece.
Falarei num
verso só
Dos nossos
amigos turistas,
São muitos, mas
não assíduos
Assim faz
parte da lista.
Quando vêem
nos felicita
Agradecemos sua
visita.
Nesse grupo
fabuloso,
Sinto-me
valorizado,
Aquele
menino pobre,
Agora está
qualificado
Para
apresentar palestras,
Fui até
condecorado.
Cheguei a
ser premiado
Do Prêmio
Genival Leite.
Restaurei
até telescópios,
Para
proveito e deleite;
Eram peças
de museu,
Só serviam de
enfeite.
Lá no meu
Pernambuco,
Terra dos
meus ancestrais,
Recebi o
primeiro impulso
Do ensino
dos meus pais;
Eles me
falavam de Galileu
E de tantas
coisas mais.
Foi aqui em
Alagoas,
Onde vi e
entrei direto,
Montando meu
telescópio
Comprado no
mercado aberto.
Foi só tomar
o caminho
Pra não
ficar descoberto.
Na base para
os telescópios,
Eu até tinha
quem fizesse;
Peguei aulas
com Adriano,
Depois com
Sandro Coletti.
E, nessa
mesma caminhada,
Tornei-me um
ATM-BR.
Adriano,
professor de Física,
Sabia fazer
telescópios,
Encaminhou-me
na jornada,
Não foi
preciso periscópio
Para eu
fazer a tomada,
Entrei na
onda dos sócios.
Sócios, o
clube tem muito,
Médicos,
mestre e advogado,
Estudantes e
tradutores,
Todos muito
interessados
Para ver
logo o que saia
Do novo
recém-chegado.
Correndo
atrás das Estrelas,
Aproveitei
Marcelo Moura,
Meu
professor à distância,
Com leituras
duradouras.
O restante
foi em casa
Na sombra da
Professora.
Fiz um
mirador das estrelas,
Cheguei a
fazer sucesso,
Entrei nesse
grupo legal,
Consegui
fazer progresso
Construindo
os instrumentos,
Foi assim que
tive acesso.
Hoje
brindamos Alagoas
Do Agreste a
beira-mar
Com a
divulgação do Céu;
Fazemos isso
sem parar
Em praças,
calçadas e ruas,
Já fomos até
no Cajá;
Lá no Cajá
dos Negros,
Nos mundos
de Batalha,
Vimos um
novo horizonte,
Não um
recanto de sala.
Um
planetário natural
Onde estrela
se agasalha.
Imagine a
sua esposa
Numa noite
de verão
Passar a mão
do seu lado
E não
encontrar o varão;
Fica logo
apoquentada
De perder o
seu patrão.
Quando olha
do terraço,
Abranda logo
o coração,
La está o
seu amado
Aproveitando
a escuridão,
Tentando
achar um cometa
Naquela
enorme vastidão.
As voltas
com o telescópio,
Procura-se
ver tudo bem;
Lua em
quarto crescente,
Planetas e
estrelas também,
De gente no
meio da praça
Num gostoso
vai e vem.
Para
apreciar bem o céu,
Só presta
durante a noite.
E, na posse
de um telescópio,
Vento fraco
sem acoite.
E, para ver
direito mesmo,
Só através
dum pernoite.
Não é fácil acreditar
Essas coisas tão além,
Só mesmo
lendo os estudos
Para entender tudo bem,
Conforme Stephen Hawking
E os feitos do Big-Bang.
Chega até
ser solitária
A vida nestas alturas,
Observando ao telescópio,
Forçando o corpo a postura,
Comprometendo o espinhaço
Sem ver
a Matéria Escura.
Nesse céu tão
vasculhado,
Nas noites escuras, sem medo,
E sempre na esperança
De descobrir um
segredo,
O brilho duma Supernova,
Começo dum Buraco
Negro.
Agradeço toda
leitura
Desses que
aqui estão
Para ouvir
essas histórias
Dos tempos
que lá se vão,
É um colírio
para os lhos
E acalanto
pro coração.
Brindando
com essa prosa
Inda vou
chegar bem perto
Relembro o
meu passado
Indo pelo
portão certo
Não
encontrarei obstáculo
O céu
estando descoberto
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